MÚSICA
Marta Correia Figueira, 3º Ano | Memory of You
“A ideia central surgiu durante o primeiro confinamento. As saudades que senti das pessoas e pequenos pormenores da vida normal foram-se acumulando e encaixando-se na letra. Apesar de ter escrito de forma pessoal espero que seja possível fazer alguém relacionar-se com a música à sua maneira.”
FOTOGRAFIA
Ana Patrícia Bispo Leão, 5º Ano | Desvanecendo
“Memória descritiva: Some people are slowly fading away... Are you the type of person who notices? ”
ESCRITA | PROSA
Ana Fagundes, 2º Ano | Português de Café
“Ó Português! Quem és tu afinal quando, cansado da lida natural de viver (o trabalho vital, a vida laboral) te sentas naquela mesmíssima cadeira, apoias rudemente os cotovelos naquela tão mesma mesa e entregas toda a tua mente à solidão do silêncio, no café barrulhento, bafiento (entre outros “-entos”) da esquina?
Ó Português! Que importa se és do Douro, da Beira, do Interior ou do Gerês? Que importa se vens daquele Norte formigueiro ou daquele Sul cigarreiro? És um português num café. Por isso, és tão somente, no momento e para sempre, um português de café.
«– Sai um café!», ou uma bica, ou um cafezinho, ou um cimbalino ou que for…tanto faz. Ai, e faz tanto…
Suspira, ó português. Tira o teu chapéu, ou boina, ou boné, e sacode-me esse suor da testa. «– Atesta!» Se é bagaço com o cimbalino, atesta!
E bebes um, depois outro. Limpas a boca com as costas da mão que as maneiras europeias tu não nas conheces, contentas-te tu só por não te doerem tanto essas costas como as que carregas atrás do coração, um pouco à esquerda. Se não souberes onde elas ficam, essas que te doem, devido ao trabalho do qual (quase) fazes vida, mas, (a)note-se, só porque dele, ela (e tu, meu bom paspalho!) dependem, não tem mal. Acabarás por encontrar o caminho. Perguntar é que não!
Ó Português! Esse orgulho de fidalgo burguês, em bolso de pobre pedinte! Quem és tu no final, afinal?
Isso… Isso é que é… Sabes lá tu, não é? Ó Português!
Esse coração de granito não é forte o suficiente para encarar aquele chamar impertinente do mar pela gente e resistir. Entregas-te a ti, e ao ser, e à alma, e vais. Para onde, Português?
Ó Português, para onde o teu Deus quiser, para o desconhecido, qual bandido; e, no final, ris-te, rodeado de ninfas, do Adamastor choramingas, sob o pó e a canela das Índias, ao sol daquela Ilha dos Amores.
Ai amores, Português! O que eles te fazem ao pobre coração latino, que late, bate, ó Português, que desatino! Olhas a puta da vida, na esquina, perna nua alçada, salto alto na calçada, na vida. E o teu coração dispara. E apertas o bolso vazio. Fica para outra vez, Português! Valham-te agora, ao menos, os olhos que Deus te deu e deixa o sangue correr e a saliva, na boca, aparecer.
Sabor a salina, a mar…
«– Venha uma loira!», a da esquina, bem ia, mas esta é mais barata! Ó Português! Mergulhas já o teu ser no mar, no amor e no álcool bento, que é esse o Fado, e o teu Fado é desse. «– Canta, Fadista!» Como ela canta… Como tu fechas os olhos para ouvir a Saudade, o som do repique das ondas e o chamar de um coração lusitano, e todo o teu ser de granito se envolve em si mesmo na sua firme fragilidade ocidental, acidental. E a tua boca fecha para fazer tudo descer ao longo da chaminé do ser, tudo embebido no teu último gole da noite.
Encher-te-á, agora, o fumo do cigarro que tiras do bolso e acendes com um fósforo. Olhas em redor e, ó Português, só vês espelhos. E tens a sorte de não ser dia de futebol! Ó Português! Nem tu, nem o Café, nem os espelhos resistem à bola roliça no campo ao som dos gritos de cortiça que nunca passarão das redondezas da esquina. Futebol e Fado, triste Fado, digo-te, Português! Tu que vives apoiado nesses teus belos vícios fáceis… E é tão fácil levar-te! E tão difícil convencer-te! Não te entendo, ó Português! Acho que nem tu te entendes. «– No tempo de Salazar é que era!» Não havia gatunos como agora… Era tudo gente séria, graças a Deus!... A Deus, à Pátria e à Família!
A família está em casa…
A Deus tiras o chapéu a cada Trindade que (res)soa…
A Pátria… Sabes lá onde está! A última vez que a viste estava na Guiné a sangrar. « – Filho da puta, Salazar!» Grande ladrão… Pim!
Ó Português! E agora? O fio condutor da coerência que te seduz é o que tu usas para te enforcares! Quem és tu, que não gostas que mandem em ti, mas que em ti não sabes mandar?
Ó Português, raios partam! Pim! Pim, Heia!, exortariam os grandes. Mão na algibeira, recostado na cadeira, poesia no sangue, sombra da musa no colo, olho na puta, orgulho firme.
O Café fecha tarde. Tu, ó Português, nunca fechas, findas ou acabas. Continuas forte, altivo, constante, que a vida é pesada, a alma carregada, e esta prosa, boa ou má, findada!”