A vida de um Harrisoniano

A vida de um Harrisoniano_ Beatriz Aranha Martins.JPG

Somos médicos mas ainda não trabalhamos. Já não somos estudantes, porém ainda estudamos, mais do que nunca.

Vamos, todos os dias, como se de um emprego se tratasse, mas sem hora de chegada bem definida. Os dias são todos iguais e apenas os distinguimos com base no horário da biblioteca: encerra à segunda-feira de manhã e ao domingo. Na memória da rotina destes últimos meses, apenas uma imagem, pois é sempre a mesma a mesa que ocupo: um pequeno monte lá ao fundo, para lá de um grande vidro; cá dentro, mesas e cadeiras meticulosamente arrumadas e mais ou menos pessoas. Já nos conhecemos uns aos outros, já sabemos qual a mesa reservada para cada um de nós.

As férias parecem-nos um conceito abstrato. Não as tivemos e não compreendemos como é que alguém se pode dar a tanto luxo. Fosse julho, agosto ou setembro, o ar condicionado era frio e pedia um casaco. As nossas vidas pararam no tempo. Ignoramos o mundo que progride, focando-nos no estudo.

Por breves momentos, na pausa do lanche ou do almoço, voltamos a nós, voltamos a ser quem somos, tentando recuperar a alegria da juventude e da possibilidade de comunicação.

Tal como de manhã vamos chegando, ao poucos, à tarde, vamos partindo, uns mais cedo que outros.

Toc toc toc. Ouvem-se os passos a aproximar-se:

- A sala encerra daqui a cinco minutos.

Fingimo-nos surpresos com tal afirmação e tentamos aproveitar os últimos minutos de estudo. Como é que um dia pode ter passado tão depressa?

Arrumamos. Saímos lentamente como se aquele lugar nos pertencesse. Despedimo-nos. Amanhã é outro dia

Filipa Isabel Gomes

Ilustração por Beatriz Aranha Martins, 4º ano