POETAS DE ESTETO NA MÃO | O Falhanço da Vitória

O que é que fazemos

Quando conseguimos o que queremos

Lutamos e vencemos

Alcançamos os objectivos

E no final o que sentimos

São os dias totalmente vazios?


Vivemos em esforço 

Treinados para a luta

Porque a vida é dura e bruta

E não devemos esperar pelo reforço

Pelo conforto

Pelo consolo

Pelo momento que precisávamos

Pobre momento em que recuperávamos

Roubado, nem lhe tocamos

Nem o sentimos, às vezes nem o imaginamos


Porque o tempo não para

Porque se estamos mal, tudo passa

Porque parar é morrer

Porque há tanto a fazer, tudo a acontecer

Olhar para trás é falhar

Pestanejar é errar

Questionar é fatal 

Desespero é banal

Fazemos das tripas coração

Porque nunca nos foi dada outra opção


E quando os seus engenhos bem desenhados

Autómatos regrados

Perfeitamente idealizados

Da carne esgotados

E do sangue drenados

Quando não nos sobra senão o propósito, a demanda, a missão

Fracos demais para oposição

Com a consciência ardida e a alma falida

Agora sim, missão cumprida


E o que vem depois?

Depois da escalada que nos maltrata

Mais sedenta a cada dia

Chegamos finalmente ao topo

Onde está a alegria?



Vivemos para a subida mas sem pensar na descida

Subimos às nuvens e agora falta-nos o chão

Há um sufoco que aperta com a chegada da noção

Que a caminhada que nos matava era também a que nos sustentava

E o que sobra, o que nos resta?

É o eco do triunfo no oco do ser

É a solidão

A inércia

É o desamparo

O vazio

nada

Agora o esforço é existir

Mas para isso ninguém nos prepara

Autor: Pedro Sousa

Edição de Imagem: Catarina Simões