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Beatriz cORDEIRO Martins | Trampolins

 

Como é que conheceste a tua modalidade? Já tinhas praticado algum desporto antes? 

Com 5 anos os meus pais quiseram que experimentasse alguns desportos, então entrei na natação por influência do meu primo mais velho e nos trampolins pois o ginásio era mesmo em frente à minha casa na altura.

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Qual/Quais é que consideras o teu maior marco no mundo desportivo?

Tenho algumas conquistas que me são mais especiais: 6º lugar no Campeonato da Europa de Seniores em 2018, entrada no projecto olímpico Tóquio 2020 em 2018, medalha de bronze em trampolim sincronizado nos 1os jogos europeus 2015, vencer o circuito de taças do mundo em trampolim sincronizado 2014

Arrependes-te de alguma decisão que tenhas tomado ao longo dos anos do curso de Medicina? Qual foi provavelmente a decisão mais difícil que tiveste de tomar durante esse período?

Não me arrependo de nada. Claro que houve muitas coisas que gostaria de ter feito no mundo académico mas que não foram possíveis pelo facto de ter de conciliar com o desporto, mas quando olho para trás vejo que também vivi muitas outras coisas incríveis e sinto-me feliz com as minhas escolhas.

Sem dúvida que a decisão mais difícil para mim foi optar por não participar no campeonato do mundo 2018 uma vez que este decorria uma semana antes da minha PNS. Foi muito difícil, mas mais uma vez, não me arrependo e acho que tomei a melhor decisão naquela altura. 

Consideras que existe algum limite de evolução quando se tenta treinar e estudar ao mesmo tempo? Ou sejas, achas que ser estudante-atleta é impeditivo de chegares ao teu máximo?

Sem dúvida que sim! Quando competimos directamente com ginastas que vivem apenas para a ginástica, que treinam o dobro do tempo, têm tempo para se dedicar à alimentação, recuperação e podem estar 100% focadas apenas na ginástica, em comparação com a nossa realidade, em que depois de um dia de faculdade/trabalho mais estudo chegamos ao ginásio já sem energia e temos que fazer em cada treino o máximo possível, juntamente com a reduzida disponibilidade para cuidarmos da nossa recuperação, não podemos achar que estamos a conseguir potenciar o nosso talento ao máximo. 

Consideras que a FMUL tem as condições necessárias para atletas de alto rendimento consigam conciliar o desporto com o estudo?

Não, de todo. Mas nem a FMUL nem qualquer universidade em Portugal. Infelizmente o nosso país ainda não está organizado a esse nível. Cada vez mais se incentiva a prática desportiva e a competição, e até mesmo o desporto em conciliação com a educação, mas ainda não temos um sistema estruturado que apoie os atletas-estudantes quer durante a prática/formação, quer no pós-carreira, não existindo programas funcionais no que respeita à integração profissional após o final da vida competitiva. 

Como é que a realização/ preparação para a PNA influenciou a tua vida de atleta? 

Sem dúvida que o ano de preparação para a PNA me permitiu um grande crescimento no que respeita a organização do tempo e a definição de prioridades, e sobretudo a saber aproveitar cada momento no ginásio para dar o meu máximo, mesmo quando acho que estou a chegar ao meu limite, mas de uma forma inteligente, aprendendo a gerir quando devo ou não levar o meu corpo e mente ao extremo. 

Durante a preparação para o exame precisei de reduzir a minha carga horária de treinos, mas aprendi a usar o treino de uma forma muito mais inteligente. Como se diz e bem: quantidade não significa qualidade. 

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Estás a fazer um apuramento para os JO 2020, certo? Como é que está a ser conciliar os estágios e a competição internacional com o internato?

Este foi sem dúvida o ano mais difícil da minha vida. O nosso apuramento para os jogos consiste em 7 competições no período de 14 meses, o que nos obriga a estar em topo de forma durante todo esse período, e não permite falhas. Por outro lado, o internato tem a grande desvantagem relativamente à faculdade, que é a obrigatoriedade de horários e a própria carga horária. Ter a nossa responsabilidade doentes reais durante 8h por dia e no final ainda ir para o ginásio mais 2h30m dar o nosso máximo, sempre com a consciência de que o que está em causa é o apuramento para os jogos tem um peso emocional enorme! Sem dúvida que o suporte familiar e dos meus amigos tem sido fundamental neste processo.

Que conselhos darias a um colega para que se tornasse mais fácil conciliar vida desportiva com vida académica?

Aprender a definir prioridades e ser organizado. Reflectir bem e ser ponderado nas suas decisões por forma a estar de consciência tranquila, mesmo que essas decisões se venham a revelar menos correctas. Definir bem o que queremos e saber deixar para traz o que não nos faz bem e que nos afasta dos nossos objectivos, e saber quando parar. Conhecer-nos a nos próprios, saber quando parar, mas querer sempre mais que o “inatingível”. Acima de tudo, não querer fazer tudo sozinho e achar que não precisamos de ninguém. Rodearem-se das pessoas que gostam e partilharem com eles os sucessos e as derrotas do dia a dia.